Um trabalho de pesquisa de autoria da oftalmologista Dayane Cristine Issaho, médica do Hospital de Olhos do Paraná, vem ganhando destaque no meio científico, pois traz um embasamento científico sólido de uma nova possibilidade de tratamento para o estrabismo em bebês, empregando a toxina botulínica. Foram coautores os Drs. Fabio Ramos de Souza Carvalho, Márcia Keiko Uyeno Tabuse, Linda Christian Carrijo-Carvalho e Denise de Freitas. Clique aqui, leia o trabalho na íntegra.
Apesar de recente, o estudo já foi publicado com destaque na IOVS, uma das revistas de maior impacto e relevância científica na área de oftalmologia no mundo, comprovando o seu alto nível de evidência e confiabilidade. E foi aceito para apresentação no congresso da AAPOS (Associação Americana de Oftalmopediatria e Estrabismo), em Washington.
Como método, foi realizada uma metanálise sobre todas as publicações sobre o tema desenvolvidas no mundo. Metanálise é uma técnica estatística especialmente desenvolvida para integrar os resultados de dois ou mais estudos independentes, sobre uma mesma questão de pesquisa, combinando, em uma medida resumo, os resultados de tais estudos.
A taxa de sucesso do tratamento do estrabismo convergente congênito encontrada no trabalho foi de 76%. A taxa de complicações (estrabismo divergente, ptose – pálpebra caída-, estrabismo vertical) foi pequena, confirmando a elevada relevância do estudo, na opinião da Dra. Dayane Issaho.
Como conclusão, ela e os demais autores do trabalho afirmam que o uso de toxina botulínica se mostra uma alternativa eficaz no tratamento do estrabismo convergente congênito em desvios de tamanho moderado.
Dayane Issaho destaca que a toxina botulínica é uma opção não cirúrgica para o tratamento de vários tipos de estrabismo. Muitos especialistas em estrabismo, no entanto, ainda são relutantes quanto ao seu uso, devido à falta de evidência científica, especialmente quando se trata de pacientes ainda bebês.
Embora a cirurgia de estrabismo ainda seja a primeira opção de tratamento, a injeção de toxina botulínica é uma opção que deve ser considerada especialmente em crianças com alto risco para anestesia geral, já que o procedimento, por mais que seja realizado sob sedação, leva poucos minutos e é muito menos invasivo do que a cirurgia.
A esotropia
A esotropia infantil ou congênita é um desvio convergente de grande angular com início antes dos 6 meses de idade em crianças neurologicamente normais. Geralmente não está relacionado a erros refrativos e frequentemente associado a outras anormalidades motoras, como a sobreção oblíqua inferior, desvio vertical dissociado (DVD) e nistagmo latente.
A prevalência de esotropia na população é de aproximadamente 1%, enquanto a prevalência de esotropia infantil relatada no parto é de 27 por 10.000 nascidos vivos. Crianças que desenvolvem esotropia infantil começam com aproximadamente 4 meses de idade. Sua etiologia é uma fonte de controvérsia e continua desconhecida.
A maioria dos investigadores concorda que a intervenção cirúrgica precoce melhora os resultados motores e sensoriais, mesmo que a reoperação cirúrgica precoce seja comum e os resultados binoculares podem ser pobres. Embora o tratamento de escolha para a maioria dos pacientes permaneça cirúrgico, as opiniões continuam a diferir quanto à melhor abordagem, particularmente em desvios angulares pequenos e moderados.